Neste texto, Alysson Muotri alerta
para as falsas promessas que tratamentos com células-tronco
oferecem a pacientes com mal de Parkinson, uma doença que é,
até então, incurável. Ele apresenta ainda as pesquisas em
andamento que tentam reverter a doença degenerativa. VEJA O
POST NA ÍNTEGRA ABAIXO:
Publicado em: 02/07/2015
Todos sabemos que a chance de ganhar na
loteria é muito pequena. Mesmo assim, muitos continuam apostando com
a esperança que um dia a sorte estará ao seu lado, afinal alguém
sempre ganha.
Agora, imagine que, sem saber, você aposte num sistema de loteria
que foi alterado para que o seu número nunca seja sorteado.
Essencialmente, você está jogando dinheiro fora por falsa esperança.
Da mesma forma, muitos pacientes com doenças incuráveis, que se
aventuraram em clinicas que oferecem tratamentos não comprovados com
células-tronco, fazem a mesma coisa.
O problema é mais evidente com doenças neurodegenerativas, como a
Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) ou o mal de Parkinson, pois são
condições agressivas que afetam a qualidade de vida do indivíduo
muito rapidamente.
Recentemente, proliferaram clinicas que oferecem tratamentos com
supostas “células-tronco” retiradas da gordura do próprio paciente
para aliviar o sintoma de portadores do mal de Parkinson. Mas essa
oportunidade tem um preço bem alto: cada injeção não sai por menos
de US$ 20 mil (e com certeza serão recomendadas diversas
aplicações). Infelizmente, não existe nenhuma evidencia cientifica
que esse tipo de tratamento funcione.
O mal de Parkinson é uma doença neurodegenerativa incurável, que
afeta milhões de brasileiros e indivíduos em todo o mundo. Sintomas
incluem tremores, redução dos movimentos e rigidez muscular. Não
existe cura para o mal de Parkinson. Existem algumas drogas que
podem auxiliar tipos genéticos/familiares de pacientes, mas nada
para a grande maioria dos casos esporádicos.
Melhoras significativas no quadro clínico podem aparecer após
estimulação profunda no cérebro, mas esse é um procedimento bem
invasivo e aconselhado em alguns casos mais severos. Existem algumas
vacinas sendo testadas em ensaios clínicos. Os resultados
preliminares sugerem que essa estratégia teria eficácia restrita
devido a má penetração dos anticorpos no cérebro e ao estágio
avançado da doença (em geral, vacinas funcionam melhor como medida
preventiva, porém não existem marcadores biológicos para Parkinson
no momento).
Como a doença começa?
O mal de Parkinson aparece quando um subtipo de neurônio que produz
dopamina (um importante neurotransmissor no cérebro), localizados
numa região do cérebro que controla os movimentos, morre por razões
ainda desconhecidas.
Pois bem, células da gordura não têm a capacidade de se especializar
em neurônios dopaminérgicos, portanto, jamais conseguirão contribuir
para retardar os efeitos do Parkinson dessa forma. Além disso, elas
provavelmente nem conseguirão chegar no cérebro, quanto mais na
região afetada.
Mas e os vídeos testimoniais e emotivos, de pacientes que receberam
as células de gordura e melhoraram? Após assistir diversos vídeos
você conseguirá observar um padrão: os pacientes, em geral, gravam
seus depoimentos logo após o tratamento, não existe acompanhamento a
longo-termo e também não existe publicação dos resultados em
revistas cientificas especializadas, o que inviabiliza a análise
imparcial por outros cientistas.
O resultado positivo logo após ao tratamento pode ser explicado pelo
efeito placebo: quando você quer realmente acreditar em algo, seu
corpo responde em sincronia, mas o efeito é efêmero. Outra
explicação seria alguma forma de supressão de um eventual processo
inflamatório em Parkinson. Infelizmente, as evidências de que esse
seja um fator determinante são escassas.
Futuro promissor
Felizmente, o futuro é promissor para os indivíduos com o mal de
Parkinson. Uma aposta plausível vem do uso de células-tronco de
pluripotência induzida, ou células iPS. Essas células, reprogramadas
a partir de células somáticas (da pele, do sangue, do dente e etc.)
do próprio individuo, podem se especializar em diversos tipos
celulares. A partir das células iPS, pode-se então criar quantidades
infinitas de neurônios dopaminérgicos do próprio paciente para um
eventual transplante na região exata do cérebro humano.
Existem evidências cientificas e clínicas de que essa idéia deva
funcionar. No passado, esse tipo de estratégia foi realizada
utilizando-se células neuronais de fetos abortados. A dificuldade
logística, somando-se ao número finito de neurônios dopaminérgicos
funcionais que podiam ser extraídos desse material, não permitiu que
o procedimento fosse aplicado em muitos pacientes.
Mas os poucos que receberam as células, tiveram resultados
positivos. Testes em roedores com uma forma induzida de Parkinson,
foram capazes de curar os tremores e restaurar os movimentos. Testes
em animais de grande porte, como macacos, foram apresentados essa
semana durante o congresso anual da sociedade internacional de
células-tronco (ISSCR).
Nesse modelo será possível acompanhar os animais por diversos anos
para ter certeza da eficácia do transplante. Esses estudos são
essenciais para que os órgãos regulamentadores, como o FDA (Food and
Drug Administration) americano, reconheçam e aprovem a tecnologia
para uso clinico.
Enquanto os experimentos pré-clínicos estão em andamento, grupos no
Japão e na Califórnia já se mobilizam para começar os primeiros
ensaios em humanos, a serem realizados em clinicas alpha. Esses
estudos pioneiros serão devidamente controlados e oferecidos sem
custo aos voluntários. Acredito que o mal de Parkinson seja a
condição ideal para testarmos a validade da medicina regenerativa na
área neurológica. É sempre melhor apostar sabendo das suas chances
de sucesso.
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informações detalhadas das operadoras de Planos de Saúde: